Em um caloroso final de tarde no Festival Primavera Sound São Paulo, no último dia 02, a banda Cansei de Ser Sexy, emblemática por seu estilo iconoclasta e engajamento, orquestrou uma performance que transcendeu os domínios sonoros, imergindo o público em uma experiência que oscilou entre a profunda emoção e um entretenimento efervescente. A vocalista campineira Luísa Matsushita (39), conhecida pelo nome artístico Lovefoxxx, ascendeu ao palco adornada com as vibrantes cores da bandeira LGBTQIA+ e, em um gesto de reverência, a banda prestou uma homenagem eloquente à deputada federal Erika Hilton. Matsushita ainda entrelaçou sua oratória com uma poderosa reflexão sobre a odisseia de indivíduos que migram para São Paulo em busca de um futuro mais promissor, ainda que seja necessário um retorno às raízes e à casa dos pais, enaltecendo a virtude e a resiliência inerentes aos recomeços da vida.
No decorrer do espetáculo, o conjunto encantou a audiência com uma seleção de hits que definiram a trajetória da banda conhecida internacionalmente pela sigla CSS, com cada canção reverberando com a energia e a paixão características do grupo. Era notável o misto de gratidão e êxtase do Cansei de Ser Sexy ao estar entre os artistas selecionados para o line-up do Primavera Sound. As performances, impregnadas de sentimento, refletiam não apenas o talento musical da banda, mas também a profunda conexão e o reconhecimento da importância de estar presente em um evento de tal porte, celebrando a diversidade e a riqueza cultural de São Paulo.
Um dos pontos mais intimistas do show foi antes da canção “City Grrrl”. Lovefoxx fez um discurso inspirador, abordando temas como superação, recomeços e a importância de ser autêntico. Ela falou sobre as dificuldades e reviravoltas da vida, lembrando ao público que todos têm a capacidade de recomeçar e de encontrar forças mesmo nas situações mais desafiadoras. A letra de “City Grrrl” ressoou de forma especial nesse crespúsculo com suas mensagens de independência, autoaceitação e a busca pela liberdade de ser quem se é. A canção celebra a diversidade e a coragem de viver a própria verdade, ecoando os sentimentos de muitos presentes.
“Quem aqui teve o início de uma história na rodoviária do Tietê? Quem aqui chegou de ônibus Cometa com uma mochila e um sonho? Eu achava que dava para ser ‘city grrrl’ só uma vez na vida, mas não. A nossa história não é uma linha ascendente constante de sucessos e glória. Porque quando fizeram o filme da sua vida… cadê o plot twist? Às vezes a gente está num buraco pessoal, emocional, de saúde, financeiro. Às vezes a gente é adulto e tem que voltar para a casa dos pais, e se esse é o seu caso, que sorte você tem. Se você está perdida, toda cagada, apática, esse é um momento importante que vai passar! Como minha mãe Zezé diz, tudo chega. E eu, como mãe de vocês, digo: tudo chega! Eu saí de um buraco desses recentemente, faz um ano já. É muito bom recomeçar! Achava que essa música era sobre começos, mas ela também é sobre recomeços. Obrigada por serem pessoas delicadas e esquisitas. Eu preciso de vocês convivendo comigo neste planeta neste momento. Desejo sorte, paciência, inspiração e coragem a você. Espero que você tenha amigas para torcer por você”, disse a vocalista, antes de executar “City Grrrl”.
Outro ponto alto foi durante a performance da vibrante da música “Alalá“, um momento que intensificou a homenagem à diversidade já palpável no ar. O palco transformou-se em um altar de veneração quando imagens de Erika Hilton começaram a ser projetadas no telão como um símbolo potente da luta e resiliência. As projeções não apenas iluminaram o espaço com a essência de Erika, mas também teceram uma tapeçaria visual que falava diretamente aos corações da plateia. Era um tributo não apenas à Erika Hilton, mas a todos os que compartilhavam de sua jornada e de suas lutas, um momento de reconhecimento coletivo e de solidariedade emocional.
Após o show, Lovefoxx expressou sua emoção e gratidão em seu Instagram, agradecendo equipe, fãs e refletindo sobre o significado da noite. Ela mencionou o sentimento de honra em fazer parte das vidas dos fãs, especialmente durante um período tão importante como a adolescência.
“Ainda estou chocada, impactada pelo tamanho da recepção e pelo entusiasmo de vocês. Queria ter feito um mosh, mas não seria possível fazer isso e voltar a cantar… Às vezes, quando a gente vai para a frente, dá muita microfonia… mas eu queria muito! Precisava ter coordenado antes, mas eu acredito que mosh é uma coisa que não se coordena, por isso não aconteceu. Queria ter falado no show, mas só me veio à mente agora: vocês frequentemente dizem “MINHA JUVENTUDE” quando falam da gente. Sinto-me sortuda por fazer parte da vida de vocês, especialmente neste momento tão delicado que é a adolescência. Assim como a sua, a banda Cansei fez parte da minha. Se a juventude foi há 20 anos ou é agora, que honra a nossa. Prometo que vou postar, ao longo da semana, fotos desse reencontro tão especial! Obrigada, Cibele, Delão, Lila, Gabriel, Amanda, Tiago, Sophia Fuke, Nick, Alice, Manuca, Jana, Glee, Dindi, Antonio, Leticia e Artsy. Dindi, Glee, Jana, ter vocês conosco esses dias foi o açúcar no fermento, o fogo no parquinho, o ripa na chulipa. Vocês são uma surra de vibe, um Gatorade. Dá para ficar juntos para sempre? Chuck, você é o baterista com quem sempre sonhamos. Eu amo te ver brilhar! Ana, Carol, Luiza: eu amo vocês. Estava morrendo de saudades, não consigo imaginar minha vida sem a presença de vocês…”, escreveu a cantora em seu Instagram.
O show na íntegra pode ser assistido na plataforma de streaming Globoplay.
DE SP PARA O MUNDO
Originária de São Paulo e fundada em 2003, o nome da banda Cansei de Ser Sexy foi inspirado por uma frase da cantora Beyoncé, que alegadamente comentou que estava “cansada de ser sexy”. A banda é conhecida por sua mistura de rock alternativo com música eletrônica, apresentando letras irreverentes e um estilo visual marcante.
A música do CSS carrega uma forte influência de estilos como indie rock, pop eletrônico e new wave. Suas letras, frequentemente em inglês, são conhecidas pelo humor e sarcasmo, abordando temas que variam desde comentários sociais até observações cotidianas lúdicas. A banda conseguiu criar um som distinto, combinando batidas dançantes com guitarras distorcidas, e se destacou por sua energia e originalidade.
O sucesso internacional do CSS se consolidou com turnês em diversos países e a participação em festivais de música renomados, como o Coachella nos Estados Unidos e o Glastonbury no Reino Unido. A banda se destacou por suas performances energéticas e pela presença de palco carismática de sua vocalista, Lovefoxx.
Ao longo de sua carreira, a CSS lançou vários álbuns, cada um explorando diferentes aspectos de sua sonoridade e estética. Além do álbum de estreia, trabalhos como “Donkey” (2008) e “La Liberación” (2011) receberam críticas positivas e ajudaram a manter a banda no cenário musical alternativo.
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