Musicista de Curitiba cria coral formado apenas com vozes trans: ‘Sons não têm gênero’

Manu Santos, cantora, musicista e mulher trans negra formada em Música pela Universidade Federal do Paraná (UFPR), é a idealizadora e regente do Llista Trans, o primeiro coral formado exclusivamente por pessoas trans em Curitiba, Paraná. Seu trabalho marca um importante ponto de reflexão no Dia da Visibilidade Trans, comemorado nesta quarta, 29 de janeiro.

Uma das principais bandeiras levantadas por Manu é a crítica à classificação vocal tradicional em corais, que associa vozes graves ao masculino e vozes agudas ao feminino. Para ela, essas divisões reforçam estereótipos cisnormativos que podem ser prejudiciais, especialmente durante o processo de transição de gênero. “Os sons não têm gênero, são apenas sons”, afirma. “A relação entre voz e identidade é sensível, e esses padrões acabam ignorando a diversidade de vivências das pessoas trans.”

Essa abordagem inovadora reflete diretamente no trabalho do coral Llista Trans, que Manu fundou durante sua graduação. Atualmente, o coral reúne mais de 30 pessoas trans e realiza ensaios semanais no Departamento de Artes da UFPR, com o apoio de estudantes voluntários da UFPR e da UTFPR. O repertório aborda questões sociais como transfobia, racismo e intolerância religiosa, além de vivências da população LGBTQIA+.

MÚSICA: UMA CONSTANTE NA TRAJETÓRIA DE MANU

A trajetória de Manu na música começou na adolescência, em projetos culturais públicos, onde aprendeu a tocar violão e guitarra. Durante o ensino médio, participou do coro do Colégio Estadual do Paraná, marcando o início de sua formação em canto. Mais tarde, integrou o coro cênico de Curitiba, o coro da UFPR e o Núcleo de Ópera Comunitário de Curitiba, expandindo sua experiência artística.

Em 2018, Manu iniciou o curso de História na UFPR, mas foi nesse mesmo ano que começou a refletir sobre sua identidade de gênero. Aos 18 anos, encontrou no reconhecimento como mulher trans um lugar de conforto e pertencimento. Posteriormente, retornou à UFPR para cursar Música, onde se formou e desenvolveu sua pesquisa sobre vozes trans, defendida com nota máxima em dezembro de 2024.

Além de questionar os padrões vocais tradicionais, Manu destaca o coral Llista Trans como um espaço de acolhimento e apoio. “É um começo. Quero garantir a continuidade do projeto e criar uma estrutura sólida que acolha meus colegas trans”, finaliza.