Em entrevista, Kelner Macêdo fala sobre vida pessoal, carreira e novos projetos no cinema

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No mais recente episódio do podcast Gay Blog Br, o ator paraibano Kelner Macêdo, que participou de produções como “Corpo Elétrico” (2017) e “A Metade de Nós” (2024), lançado no dia 30 de maio, falou sobre sua carreira, os diferentes meios de exercício da sua profissão e conta detalhes sobre as produções em que atuou.

Nascido em Rio Tinto, cidade no interior da Paraíba com cerca de 24 mil habitantes, e onde a única referência de dramaturgia eram as telenovelas, Kelner Macêdo cursou Artes Cênicas na Universidade Federal da Paraíba (UFPB) e ingressou efetivamente na atuação após fazer um teste de elenco para o filme “Aquarius” (2016), dirigido pelo pernambucano Kléber Mendonça Filho.

Kelner Macêdo - Foto: Daniel Apoena/GayBlogBR
Kelner Macêdo – Foto: Daniel Apoena/GayBlogBR

Definido por si mesmo como um curioso do meio artístico, Kelner detalha como foi o processo de descoberta tanto de sua paixão pelo arte de atuar, como de se reconhecer como homem gay em um local em que a comunidade LGBT+ era reprimida pelo conservadorismo. O ator também fala sobre como foi crescer com a ausência de referências tanto em relação à sexualidade, quanto à sua profissão e destaca que a construção de sua personalidade e sua carreira foi feita “[…] tijolinho por tijolinho […]” a partir das experiências que teve ao longo do tempo.

A respeito de “Corpo Elétrico” (2017), o paraibano destacou o importante significado que o longa, o primeiro de sua carreira como ator, tem para sua trajetória e como o filme possibilitou a ele novas oportunidades na área. Kelner também relata como foi sua experiência de atuar na série “Todxs Nós” (2020), uma comédia gay produzida pelo cineasta Daniel Ribeiro.

– BKDR –

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Kelner Macêdo - Foto: Daniel Apoena/GayBlogBR
Kelner Macêdo – Foto: Daniel Apoena/GayBlogBR

Durante a entrevista, conduzida por Maurício Kino e com presença do editor-chefe do Gay Blog Br, Vinícius Yamada, Macêdo contou detalhes a respeito de “A Metade de Nós” (2024), que estreou nos cinemas de todo o Brasil no dia 30 de maio. O longa acompanha a história do casal Francisca e Carlos que, após o suicídio de seu único filho Felipe, se separam e experimentam o luto de formas distintas. No filme, Kelner interpreta o personagem Hugo, que é vizinho de Felipe. 

O ator paraibano encerra sua participação no podcast sobre seus próximos trabalhos, o filme “A Bandida Número Um da Rocinha”, baseado na história real de Raquel de Oliveira, a telenovela “Guerreiros do Sol”, produzida para o Globoplay e que conta a história do casal Lampião e Maria Bonita. Além disso, Kelner Macêdo faz uma reflexão a respeito de sua visão sobre o que é a representatividade LGBT+.

Ouça na íntegra:

Confira trechos da entrevista:

Qual a origem da pessoa Kelner Macêdo? Esse é seu nome artístico?

Não, esse é o nome de batismo, Kelner Macêdo. E é engraçado, porque Kelner é muito diferente e todo mundo pergunta de onde vem. Mas, nos anos 1990, tinha um estilista em Recife que chamava Beto Kelner, e minha mãe amava esse nome, e aí veio. Foi uma dificuldade quando criança e é até hoje, porque ninguém entende, ninguém sabe escrever, tem que repetir o tempo todo, mas acho que me define muito esse nome. Quando eu fui entender com relação ao nome artístico, o que escolher, não tinha escolha. Já estava pronto, né?

Vozes, sotaques, corpos, movimentos, o trabalho do ator na cena, na tela. Como você se define?

Eu me defino como um grande curioso das artes da cena, tudo me interessa, tudo me encanta, tudo me causa muita curiosidade. Principalmente agora que tem me chegado personagens muito diferentes, que eu preciso realmente trabalhar uma composição que é muito além do estar presente, do interpretar, mas ‘como que a gente compõe essas pessoas que são muito diferentes da gente?’ Isso me instiga muito e me leva muito além. É o interesse que norteia muito a minha vida e os meus dias sabe. É o que recorta o meu ponto de vista do mundo.

Kelner Macêdo - Foto: Daniel Apoena/GayBlogBR
Kelner Macêdo – Foto: Daniel Apoena/GayBlogBR
A gente pode dizer que “Corpo Elétrico” (2017), filme de Marcelo Caetano,  te lançou para o mundo do cinema e da TV?

Completamente! Foi o que abriu as portas e as janelas. O que me apresentou mesmo para o mundo, para o mercado, e me trouxe muitas coisas, até hoje. É um filme muito especial, que me marca, que me define mesmo enquanto discurso político, enquanto uma pessoa no mundo sabe?! É um filme que ele me representa de todas as maneiras e eu tenho muito orgulho dele. Esse filme é um presente na minha vida, não tem como falar dele de outra maneira, a não ser com muito afeto, com muito carinho, com muito amor, é um filme que me recebeu muito bem. É um filme de ator, é um filme de processo. O Marcelo é muito especial nesse sentido, porque ele olha o elenco e ele vê o elenco, sabe?! Ele tem interesse por essas pessoas, por esses atores. E ele gosta de ensaiar, o que não é tão comum no cinema. O “Corpo Elétrico” eu ensaiei em dois meses. Eu fiquei um mês inteiro trabalhando preparação, só eu, ele (Marcelo) e o Gabriel Domingues, que também é um dos roteiristas, parceiro dele (Marcelo) inclusive no “Baby” (2024) também, e ficamos trabalhando um mês, nós três. E aí, no segundo mês, entrou o elenco inteiro. Então foi um processo que também me formou muito, enquanto entendimento do fazer cinematográfico mesmo, de como as coisas de fato funcionam quando elas têm esse tamanho, porque eu tinha feito curtas, eu tinha feito o piloto de série que tem outro tamanho, outro tempo de duração, tem um processo ali que é muito específico, e esse filme não. Ele me traz ares de perspectivas infinitas com relação ao trabalho, sabe?! Foi um privilégio receber esse personagem, poder fazer esse filme e poder falar do que ele fala, poder viver esse processo que me transformou tanto. Esse é um filme que tem um processo que muda a minha vida mesmo.

Você atuou também com outro cineasta brasileiro dessa nova geração, que é muito importante, o Daniel Ribeiro, e ele dirigiu a série streaming para HBO “Todxs Nós”, junto com Heitor Dhalia, Vera Egito e Alice Marconi que é uma comédia gay jovem. Como foi trabalhar com eles e atuar para streaming ou séries de televisão? 

“Todxs Nós” foi uma experiência muito maravilhosa. É sobre a nossa comunidade, são as nossas pautas na tela, são os nossos corpos, as histórias dos nossos corpos na tela, que é uma falta que a gente tem no mercado. Temos pouquíssimas séries LGBTs, temos pouquíssimos personagens LGBTQIAP+ nas séries e nas novelas. E essa série em específico, “Todxs Nós”, coloca foco exatamente nisso, nessa comunidade, nessas pessoas que pouco são vistas, que pouco tem espaço de dramaturgia para falar das suas questões, para colocar a sua cara, o seu corpo, a sua história na tela. E quando a gente faz isso, acho que abrimos muitos caminhos ‘do que pode ser?’. Fazer essa série me levava uma sensação de como pode ser bom, como pode ser gostoso fazer isso o que a gente faz, e contar essas histórias que, geralmente, não contamos tanto, e às vezes, quando conta, é um espaço muito reduzido dentro daquela trama, daquela dramaturgia, e essa série não, ela é puramente sobre isso. Era muito mágico assim. E o Daniel Ribeiro e a Vera Egito, eles que dirigiram a série, criaram, escreveram, dirigiram, e são parceiros que eu quero ter sempre perto. São diretores desse momento de agora, que estão olhando para o agora sabe?! Que não estão olhando para o passado, ou mirando em um futuro impossível, não! Eles estão olhando para o agora e falando sobre isso e é muito importante hoje. E também [estão] usando os seus privilégios para poder levantar essas pautas que são muito interessantes e são muito urgentes, de uma sociedade que tá viva, que tá mudando, sem hipocrisia, sabe?! É um olhar muito genuíno para o hoje, para o que somos e o que podemos ser. Então, por isso, foi uma série muito especial. 

Atualmente você está no cinema com o filme “A metade de Nós”, que fala sobre luto, depressão e suicídio. Queria que você comentasse sobre a sua experiência e sobre o filme.

“A Metade de Nós” é um filme que sempre me atravessou muito, desde o primeiro momento em que eu recebi o roteiro, quando o Flávio Botelho, que é o diretor e roteirista me ligou. Era fim de 2018, e eu recebo uma ligação dele falando ‘Kelner, tudo bom? Aqui é o Flávio, estou fazendo o meu primeiro longa e estou aqui com roteiro, e tem um personagem que você tem o perfil. A gente tinha um outro ator trabalhando, fazendo esse personagem há um mês e meio, e ele não vai poder fazer o filme. Nós temos pouquíssimo tempo agora até começar a filmar, e eu queria te mandar o roteiro para você ler e a gente ter uma conversa’, falei ‘tá bom! Eu vou viajar para o Réveillon e na volta a gente tem essa conversa’, e ele mandou o roteiro e eu fui lendo no carro no Réveillon. E eu fiquei completamente atravessado com aquilo, com aquela história, com aquele personagem. Sabe quando você olha e fala ‘cara é meu, eu vou lutar com todas as armas que eu tenho, vou pegar esse personagem’? E foi isso. Voltei da praia com isso muito atravessado na minha garganta, aí tivemos uma conversa e logo ele me ligou e falou ‘é você, é você, é você. Vamos fazer?’ E eu falei ‘vamos fazer.’ Tivemos dez dias de preparação muito intensa, porque a ideia do Flávio sempre foi fazer um filme de ator, onde nada dentro do filme transpassa ou engolisse o ator, sabe?! Porque, às vezes, a gente tem uma cena, um drama e de repente entra uma trilha que o trabalho do ator ficou completamente atravessado por aquela trilha, e não, ele queria fazer um trabalho o dia atuação mesmo, um trabalho profundo de composição, de ensaio, parecia teatro porque era muito intenso, era um mergulho assim. […] É um filme que fala da natureza humana, dos sentimentos da natureza humana. É um filme que ele se comunica com todo mundo, sabe? Não é sobre raça, não é sobre sexualidade, não é sobre fatores socioeconômicos, não! É um acontecimento que desnorteia os dias daquela família, daquele casal, daqueles pais e acho que é um filme sobre sentimentos da natureza humana que todo mundo sente, sentiu ou sentirá. Todo mundo tem medo, né? Ou tem medo de perder, ou já perdeu alguém, ou conhece alguém que perdeu e acompanhou o que é sentir aquilo. O que é aquela tentativa de elaboração de luto, o que é buscar a forma de sobreviver a partir dessa tragédia, porque o filme parte de um suicídio, né? O filho único desse casal se suicida. E o filme fala sobre como eles vão seguir a parte disso, a partir desse acontecimento.

Você também acabou de gravar uma telenovela para Globoplay, “Guerreiros do Sol”, que é baseado na história de Lampião e Maria Bonita. Como é que foi a construção desse personagem, como é que foi a participação?

Estou muito empolgado para o lançamento de “Guerreiros do Sol”. Acho que vai ser forte, vai ser bonito. É sobre a nossa história, sobre a nossa identidade do Brasil mesmo, enquanto cultura. É a história do que aconteceu, como que chegamos até aqui, né? E o sertão ele tem belezas radiantes, acho que a gente vai ver muita beleza também, apesar de tudo. De toda dor e de toda a desgraça, porque é sobre o Cangaço, né? Então, não tem como ser leve, não tem como ser ameno, vai ser tiro, porrada e bomba mesmo, mas recheado de muita beleza. 

O que é representatividade LGBTQIA+  para você e suas interseccionalidades?

É quando a gente cria perspectivas para os nossos corpos que transpassam a dor e a violência que eles já viveram. A representatividade é uma necessidade de contarmos as nossas próprias histórias, é uma abertura de um novo espaço que, talvez, nunca existiu de fato, e que a gente está agora lutando muito por ele, né? A gente vem lutando há muito tempo por isso, e acho que estamos conseguindo criar novas perspectivas e novos caminhos para gente e para quem vem depois. A minha representatividade é uma necessidade muito a partir disso também, ‘para quem vem depois’, sabe?! Como que a gente prepara esse espaço aqui para quem virá depois da gente, para que seja um espaço melhor, muito mais digno para os nossos corpos habitarem. Tem um caminho muito longo aí pela frente ainda, mas eu vejo caminhos luminosos para gente, acho que a gente não vai parar, não vai calar, né? A gente vai seguir. Representatividade para mim é isso, é a possibilidade de caminhos para frente, sabe?! De novas perspectivas, de mudança de paradigmas mesmo, que a gente problematize e outras coisas e não a nossa sexualidade, o nosso gênero. Eu acho que é caído ainda, ter que lutar sobre isso, falar sobre isso, mas temos que fazer e estamos fazendo. Mas espero mude e daqui a pouco a gente possa falar sobre outras coisas, outras questões, outras problemáticas.

Kelner Macêdo - Foto: Daniel Apoena/GayBlogBR
Kelner Macêdo – Foto: Daniel Apoena/GayBlogBR
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