Em cartaz com a peça ‘Invisível’, João Côrtes fala seu papel na sociedade: ‘Me vejo como artista político’

Em cartaz com a peça ‘Invisível’, João Côrtes fala seu papel na sociedade: ‘Me vejo como artista político’

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João Côrtes quer fazer a diferença – seja como pessoa ou como artista. Um dos sinais de que está no rumo certo é a peça “Invisível”, que está em cartaz até o dia 13 de março, aos sábados (21h) e domingos (20h), no Teatro Renaissance, em São Paulo. Os ingressos oscilam entre R$ 50 e R$ 100.

O monólogo mergulha nas complexidades de um relacionamento abusivo entre dois homens interpretado por João Côrtes: um deles é Eduardo, que suporta a violência física e psicológica praticada por seu parceiro Michel. A relação piora quando decidem morar juntos. Após muito tempo sofrendo em silêncio, Eduardo toma a corajosa decisão de denunciar seu agressor, levando o caso às autoridades, com uma série de desdobramentos.

João Côrtes
João Côrtes

Com temas urgentes e atuais, levantando questões como a vergonha e o medo de denunciar, a falta de apoio das autoridades e a fragilidade da vítima em relações tóxicas, “Invisível” é a forma de Côrtes falar sobre o quanto violência física e psicológica aflige também as relações homoafetivas – algo pouco discutido pela sociedade.

Em entrevista ao GAY BLOG BR, o ator de 28 anos explica a construção do espetáculo, comenta o universo gay e o que pretende realizar de projetos em 2024:

– BKDR –

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  • Alguma vivência ou algo que já presenciou ajudou a construir seu personagem no espetáculo?

A minha vivência como homem gay já é uma vivência que, em muitas camadas e esferas, me ajuda muito a contar essa historia. Do abuso, foi importante entender o que é, então eu conversei com gente que viveu coisas parecidas e amigos que já estiveram em relações abusivas. Vi muitos filmes e séries, fui buscar ver coisas que tratassem desse assunto.

João Côrtes - Foto: @jonathanwolpert
João Côrtes – Foto: @jonathanwolpert
  • Como lida com homofobia e esse descaso que o espetáculo retrata em pleno 2024? Como avalia essas questões hoje?

Falar de homofobia e preconceito, que é o que espetáculo aborda, é complexo, que envolve muitas coisas juntas. É profundo e ancestral. Existem dois lugares: eu como pessoa e eu como artista. Como pessoa, eu acho que não existe espaço para homofobia e preconceito, e cada vez mais não existe espaço pra isso. Não cabe, não dá. O respeito ao próximo, seja quem for, é urgente e imprescindível, inegável. Não dá mais pra passar pano pra isso e tratar como normalidade ou acaso, não dá. Isso é evitável sim. Como artista, sinto que por ter lugar de fala, sinto responsabilidade em agir com relação a isso. A peça é esse lugar, esse movimento de denuncia com relação a isso. Me vejo como artista político, social, que é meu dever como artista e homem gay de criticar, alertar e trazer consciência pra isso que possamos evoluir. 

  • Como foi o processo de preparação do espetáculo e o que espera de retorno do público? Qual a principal intenção?

Foi um período curto de preparação, com apenas 1 mês de ensaio. O grande trunfo do teatro é que o processo nunca acaba, nunca vai chegar em resultado final de apresentar. É sempre uma obra viva que vai descobrindo novas formas de contar, camadas, olhares – esse é o grande lance. É uma peça difícil, porque é densa, e exige muito de mim: eu danço, caio, canto, grito… meu corpo não para fisicamente e emocionalmente, porque a historia não é fácil. É importante lidar com perspectiva e com respiração, para que a trama não me afete mais do que deveria. Para o público, é um texto provocador, sofisticado, incisivo, intenso, forte – são esses os adjetivos que posso usar. Espero que o público saia provocado, refletindo, revendo questões, e que possa levantar conversas e discussões, continuar essa conversa sobre abuso, complexidades de uma relação abusiva, sendo homoafetiva ou não, que as pessoas saiam intrigadas e refletindo.

Depois de ter me declarado gay, publicamente, ganhei senso de liberdade maior, e tudo isso foi por mim, principalmente, porque eu mereço me sentir confortável na minha própria pele, a gente lida com essas questões de imagem no meio artístico. Ser gay, às vezes, pode ser uma problemática ao tipo de papeis que se pega, o perfil que você tem, a maneira como é visto no mercado. Fiz nesse lugar de poder me sentir livre e confortável com quem eu sou. Esse é o principal ganho, de me sentir empoderado, livre mesmo. Ser do jeito que sou sem pedir licença.

João Côrtes estreará monólogo sobre complexidades de um relacionamento abusivo em contexto homoafetivo - Divulgação
João Côrtes está em monólogo sobre complexidades de um relacionamento abusivo em contexto homoafetivo – Divulgação
  • Você também canta e escreve. O que prevê para este ano?

Tenho algumas músicas prontas, já escritas, que quero lançar esse ano, botar no Spotify e escrever roteiros. Estou desenvolvendo dois roteiros de longa, que quero tocar e, se possível, dirigir.

  • Alguns de seus projetos tem preocupação na causa LGBTQIA+. O que falta de produção voltada à comunidade?

Estamos evoluindo nesse sentido, estamos andando pra frente, e cada vez precisa contar historias LGBTQIA+ que reflitam as pessoas, que todas as pessoas possam se sentir vistas, reconhecidas, representadas na tela. Acho que isso é o fundamental, sinto que tá caminhando nesse sentido. Está se contando mais historias gays, trans. A consequência é que vá se normalizando, provando para as pessoas de que nós existimos: nós não vamos pra lugar nenhum, merecemos ter histórias contadas e merecemos nosso lugar, ser vistos e celebrados. 

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