O Acervo Bajubá lança o projeto “Arquivo Transformista: acervos e memórias da arte transformista em São Paulo”, uma plataforma digital gratuita voltada à preservação e divulgação de histórias de artistas travestis e transexuais que protagonizaram a cena cultural LGBTQIA+ paulistana a partir do final dos anos 1960. O projeto está disponível em arquivotransformista.com.br.

Com base em mais de dois anos de pesquisa, o acervo reúne cerca de 250 imagens inéditas, legendadas e contextualizadas pelas próprias artistas, além de vídeos, depoimentos e documentos sobre as trajetórias de Aloma Divina, Kelly Cunha, Gretta Starr, Marcinha do Corintho e Victoria Principal — cinco nomes centrais na consolidação da arte transformista como linguagem estética, política e cultural no Brasil.
Segundo os organizadores, o Arquivo Transformista responde diretamente à invisibilidade histórica dessas artistas nos registros oficiais da memória e na grande imprensa. O objetivo é garantir que suas histórias possam ser conhecidas por novas gerações e acessadas livremente por pesquisadores, educadores, estudantes e todas as pessoas interessadas em cultura LGBTQIA+.
“O que eu não tive lá atrás, de início de carreira, estou tendo na minha velhice. Foi uma surpresa e muito gratificante o convite. O que eles estão fazendo é lindo. Sei que serei lembrada por muitos e muitos anos”, afirma Aloma Divina, de 76 anos, uma das homenageadas.
Kelly Cunha, 78, também ressalta a importância do reconhecimento: “Ter minha memória e trajetória preservadas em um acervo digital é de uma importância imensa. É uma forma de garantir que a história de artistas como eu seja contada e reconhecida, alcançando novas gerações.”
A curadoria das imagens foi feita a partir dos acervos pessoais de cada artista, com fotos que registram desde apresentações em boates como Corintho, Medieval, Nostro Mondo e Freedom, até momentos íntimos da vida cotidiana e familiar. Também estão disponíveis registros de participações em carnavais, concursos de beleza e eventos da Parada do Orgulho LGBTQIA+.
A produção das legendas contou com a participação direta das artistas, que ajudaram a identificar lugares, personagens e datas das imagens. O resultado é um mapeamento sensível e detalhado da cena transformista em São Paulo, que permite não só o resgate da memória, mas também a valorização da presença de pessoas trans em espaços de protagonismo cultural.
Marcinha do Corintho, 58, relembra sua trajetória com emoção: “Com 40 anos de carreira, é muito importante para mim fazer parte do Arquivo Transformista, pois, de alguma forma, me mantém viva. Deixa meu legado, minha história, minha resistência, e um dia, quando eu partir, as pessoas se lembrarão de mim por tudo que fiz.”
Victoria Principal, de 55 anos, a mais jovem entre as participantes, reforça:“Ser escolhida para estar no Arquivo Transformista, que estará disponível digitalmente para várias pessoas terem acesso, é de uma importância imensa. É fundamental que a história de artistas como eu seja preservada.”
A pesquisa foi realizada por Angel Natan, Alexandre dos Anjos, Marcos Tolentino e Yuri Fraccaroli, em continuidade à coleção Memórias à margem, idealizada pelo Bajubá em parceria com o Memorial da Resistência de São Paulo. Essa coleção reúne depoimentos de pessoas LGBTQIA+ que viveram os períodos da ditadura e da redemocratização.
Para Angel Natan, o envolvimento com o projeto tem significado pessoal: “Sou uma travesti que construiu um vínculo de amor e carinho com essas artistas, reconhecendo em cada uma delas a força que mantém viva nossa memória. Cada trajetória é um espelho da minha; poder colaborar com a trajetória de cada uma delas é a maior honra que eu poderia receber.”
Gretta Starr, 70, que vive com HIV desde a década de 1990 e tornou pública sua sorologia em um espetáculo na Blue Space, também comemora a visibilidade: “É um afago no meu coração e a prova de que deu certo ter feito tudo aquilo que tinha vontade de fazer.”
Além da plataforma digital, o lançamento foi marcado por um evento no Mitte Bar, com apresentações das artistas homenageadas. No Museu da Diversidade Sexual, também houve uma roda de conversa sobre memória transformista e uma oficina de arte drag e desenvolvimento de personagem.
Arquivo Transformista: acervos e memórias da arte transformista em São Paulo
Plataforma digital gratuita
Disponível em: www.arquivotransformista.com.br
Instagram: @arquivotransformistabr
FICHA TÉCNICA
Realização: Acervo Bajubá
Contemplado pelo: Edital Fomento CultSP ProAC nº 15/2024 – Fortalecimento da Cultura LGBTQIA+
Produção executiva: Angel Natan
Coordenação de pesquisa: Yuri Fraccaroli
Pesquisa: Marcos Tolentino, Alexandre dos Anjos
Artistas participantes: Aloma Divina, Kelly Cunha, Gretta Starr, Marcinha do Corintho, Victoria Principal
Consultoria jurídica: Pedro Vieira
Assessoria de imprensa: Julio Sitto
Direção de arte e design: Thais Esmeraldo
Webdesign e desenvolvimento: Harpya Satanara
Projeto de acessibilidade do site: Paulo Henrique da Silva Leonardo
Consultoria em acessibilidade: Caia Gusmão Ferrer
Consultoria contábil: José Tolentino
Gestão de redes sociais: Rafitos Silva
Tradução simultânea e Libras: Verena Teixeira, Leonardo Gatinho
Figurino: Alexandre dos Anjos
Fotografia: Ivi Bugrimenko
Videomaker: Jansey Oliveira
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